Saúde começa pela Boca


segunda-feira, 27 de março de 2017

Preparo Cavitários- CAVIDADES CLASSE I e II PARA AMÁLGAMA


Materiais  não  adesivos  de inserção  direta

  INTRODUÇÃO
           O tratamento da lesão cariosa tem ao longo dos anos requerido uma abordagem biomecânica da cavidade a ser executada, de maneira a permitir que as estruturas dentais remanescentes possam receber uma restauração dental capaz de restabelecer e manter a saúde, função e estética dos dentes e seus tecidos de suporte, em harmonia com a boca e com o organismo em geral.     
Esta intervenção biomecânica da cárie e de outras lesões dos tecidos duros do dente de forma que as estruturas remanescentes possam receber um material restaurador e substituir tais estruturas dentais perdidas é o que chamamos de preparo cavitário³¹ .
Num preparo cavitário, de acordo com a finalidade, seja terapêutica, protética ou ambas, deve-se observar os princípios biomecânicos, com o objetivo de preservar e reconstruir novamente sua integridade funcional, estética e de resistência. As estruturas remanescentes devem estar aptas a receber uma restauração que devolva esta integridade, que as proteja e ao mesmo tempo evite cáries reincidentes.
BLACK em 1908, que foi o pioneiro na criação de uma sequência de procedimentos, até aos dias atuais houveram algumas adequações relacionadas à abrangência da lesão de cárie, tais como: controle da incidência e gravidade da cárie, evolução e provável interrupção precoce da cárie juntamente com uma evolução tecnológica e aprimoramento dos materiais restauradores.
A Dentística Operatória está imbuída de quatro propósitos fundamentais:
  1. Prevenção
  2. Interseção
  3. Preservação
  4. Restauração.
Saindo de uma fase, inicialmente empírica, sem bases mecânicas e/ou biológicas8, a Odontologia, no início do século XX, a partir das preposições de BLACK, passou para uma nova era baseada num enfoque científico estabelecendo uma seqüência lógica de procedimentos inter-relacionados visando simplificar e facilitar a execução dos preparos cavitários.
A ordem geral destes procedimentos é:
Forma de Contorno: é a área da superfície do dente a ser incluída no contorno ou margens de esmalte da cavidade acabada.
• Forma de Resistência: são características dadas ao preparo cavitário relacionadas à proteção do dente (ou estrutura remanescente) e do material restaurador para que sejam capazes de resistir aos esforços da mastigação.
Forma de Retenção: são formas dadas à cavidade para que esta retenha e impeça o deslocamento da restauração.
Forma de Conveniência: é a conformação dada ao preparo para facilitar o acesso para instrumentação, inserção e acabamento da restauração.  
Remoção da Dentina Cariada Remanescente: é a fase na qual se remove toda a dentina cariada após as fases prévias do preparo.
Acabamento do Preparo Cavitário: visa promover a remoção dos prismas de esmalte sem sustentação, promovendo um melhor vedamento marginal entre material restaurador e parede cavitária. Esta remoção pode ser dada pelo alisamento das paredes do esmalte ou preparação do ângulo cavossuperficial. 
Limpeza da Cavidade: promove a remoção dos resíduos remanescentes do preparo cavitário para que este receba o material restaurador num campo completamente limpo.
Estes fundamentos biomecânicos utilizados para a execução de um preparo cavitário continuam os mesmos até os dias atuais, ressaltando a importância de se correlacionar cada um destes princípios com o tipo de material restaurador a ser utilizado.
Os princípios continuam os mesmos, já os métodos de execução e as configurações dos preparos cavitários para amálgama sofreram influências e mudanças no decorrer dos anos devido principalmente à adoção de medidas preventivas pela população, o diagnóstico precoce das lesões cariosas, assim como o desenvolvimento de novos instrumentos operatórios e a melhora nas propriedades dos materiais restauradores, favorecendo uma abordagem mais conservadora no que tange os preparos cavitários.
     
      BIOMECÂNICA DO PREPARO CAVITÁRIO E O MATERIAL  RESTAURADOR
As características individuais e propriedades físico-química dos materiais restauradores de eleição são essencialmente os responsáveis pela determinação da conformação geométrica dada a um preparo cavitário.16,22,46
Para atender aos objetivos primordiais das restaurações dentais em todas as suas exigências, o cirurgião dentista necessita contar com materiais restauradores de propriedades físicas, químicas e biológicas adequadas à função que vão executar. São as propriedades dos materiais que determinam, em última análise, o comportamento clínico das restaurações2.
É conveniente, a consideração de algumas propriedades do amálgama durante a execução do preparo cavitário, para que a restauração alcance uma performance clínica adequada e conseqüente longevidade no meio bucal.3 Este material apresenta como características uma baixa resistência à tração, baixa resistência de borda, baixa resiliência, alto módulo de elasticidade, e fragilidade, além de ser plástico e não adesivo. Deve-se, portanto, compreender fundamentos biomecânicos para que se obtenha o máximo desempenho da restauração.
Segundo BARRANCOS MOONEY, em 1988, até pouco tempo atrás os pesquisadores procuravam determinar as propriedades mecânicas, físicas, químicas e biológicas em laboratório e tentavam melhorá-las pensando que existia sempre uma correlação entre as propriedades e o comportamento clínico do material.
Estudos clínicos, usando critérios científicos e realizados por diversos pesquisadores diferentes revelaram que propriedades tais como o escoamento (“creep”) e a redução da fase gama 2, são mais importantes para o desempenho clínico do material do que uma alta resistência à compressão.
 De acordo com BAUM et al. em 1995, de uma maneira geral, os preparos cavitários em dentes têm sido determinados de acordo com as necessidades do amálgama, com cavidades auto-retentivas, ângulos cavossuperficiais bem definidos e retenções para manter o amálgama na cavidade.
As peculiaridades do amálgama irão portanto determinar as características do preparo cavitário, portanto, devido a excelente condutibilidade térmica deste, o preparo cavitário deve ser o mais raso possível, mas com uma espessura mínima de 2mm capaz de compensar a alta friabilidade do material conferindo-lhe resistência à fratura4.
A biomecânica é a ciência que trata das forças que agem sobre um corpo vivo; são as bases mecânicas da atividade biológica37. Isto determina que devem ser seguidos fundamentos biológicos e mecânicos para a execução de um preparo cavitário.
FICHMANN & SANTOS, em 1982, definiram que os fundamentos biológicos são os cuidados que o profissional deve ter em relação ao complexo dentino-pulpar e periodontal. Em relação ao complexo dentino-pulpar, é importante evitar o superaquecimento durante a execução do preparo cavitário, observando, assim, a efetividade de corte dos instrumentos rotatórios e manuais e refrigeração adequada.
Deve-se avaliar também, a necessidade de forramento devido a proximidade do material com a polpa e seu possível efeito irritante. Determinam ainda que os fundamentos biomecânicos das cavidades modernas para amalgama possibilitam uma menor perda dos tecidos dentais, conseqüentemente uma maior proteção pulpar, maior resistência à fratura e maior durabilidade.
Com relação aos fundamentos mecânicos, BARRANCOS MOONEY, em 1988 determina que a conformação do preparo cavitário deve estar relacionada às forças mastigatórias às quais o material restaurador estará sujeito, sendo necessário, às vezes, se ater à artifícios que evitem a fratura do dente e/ou da restauração, assim como evitar o deslocamento do material.
Segundo MONDELLI et al.30 em 1990, o estabelecimento do contorno cavitário para localizar o limite cervical do preparo deve ser executado com conceitos preventivos, tendo em mente fundamentos biomecânicos interno (relativo ao complexo dentina-polpa) e externo (relativo ao periodonto).
Assim, quanto ao complexo periodontal, deve-se conhecer as dimensões da distancia ou espaço biológico e respeitá-las durante a realização do preparo cavitário, para que ocorra uma correta adaptação das margens da restauração e consequentemente a manutenção da saúde periodontal
                                                                              


            MONDELLI et al, ressalta que os procedimentos operatórios conservadores podem ser considerados como uma medida preventiva, em uma fase mais avançada, quando a cárie ou outro tipo de lesão já iniciou seu ataque clinico às estruturas dentárias, salientando que num processo evolutivo destes preparos cavitários, diversos autores procuraram diminuir a quantidade de desgaste da estrutura dental visando uma maior preservação do elemento dental.
FORMA DE CONTORNO   
A forma de contorno, pode ser definida como a área da superfície do dente a ser incluída no contorno ou margens de esmalte da cavidade acabada e deve englobar todo tecido cariado e as áreas de suscetibilidade à cárie da superfície do dente a ser restaurado, segundo MONDELLI et al.(2010)
De acordo com GILMORE em 1975, o envolvimento das áreas defeituosas era recomendada para preparos oclusais a serem restaurados com amálgama. A extensão da superfície oclusal é regulada pela extensão da lesão cariosa e pela anatomia do dente.
 De acordo com os conceitos propostos por BLACK.5, era necessário realizar uma extensão preventiva para prevenir o aparecimento de lesões cariosas recorrentes no esmalte adjacente à restauração, estendendo o limite do preparo a uma área em que houvesse uma “relativa imunidade”, prevenindo assim o aparecimento de lesões cariosas em tais regiões.
Já nas cavidades ditas modernas para amálgama o que determina a forma de contorno é somente a remoção de tecido cariado e esmalte sem suporte dentinário, sem necessidade de englobar estrutura dental sadia 8,14,15,21.
De acordo com CHABERNEAU et al. 1978, as dimensões internas do preparo cavitário refletem naturalmente a penetração da cárie. Todo esmalte minado ou socavado pela cárie deve ser removido, deixando apenas esmalte suportado por um limite amelodentinário intacto.
É consensual entre os autores modernos que a abordagem e o desenho final dos preparos cavitários para amálgama será bastante semelhante ao formato da lesão cariosa removida.
GALAN et al., em 1984, salientou que a etapa de definição da Forma de Contorno requer um bom planejamento, pois irá diretamente determinar a largura e profundidade da cavidade, interferindo por conseqüente na Forma de Resistência.
 Os princípios que governam o contorno externo para o amálgama incluem a localização das margens cavitárias em tecido dentário sadio, áreas de susceptibilidade diminuída á cárie, áreas de acesso conveniente, e formação adequada de curvas e linhas sem descontinuidade e ângulos arredondados.
 BAUM preconiza que os preparos cavitários para amálgama devem ser executados de forma a permitir no mínimo 2 mm de espessura de amálgama.      
Segundo GILMORE; LUND (1975) a crista marginal deverá ser preservada sempre que possível, para absorver tensões e manter o dente intacto. Sempre que uma crista oblíqua ou marginal (ponte de esmalte) cruza a superfície oclusal, ela é deixada intacta a menos que esta tenha sido socavada pela cárie ou que contenha um sulco com uma coalescência precária. 
De acordo com MONDELLI et al. quando duas cavidades distintas se encontram separadas por uma estrutura sadia com menos de 1mm elas devem ser englobadas em um único preparo; caso contrario essa deverá ser mantida preparando-se duas cavidades distintas.
Dentro da forma de contorno deve-se avaliar as diferenças de procedimentos e planejamento para áreas de cicatrículas e fissuras (cavidades classe 1) e áreas de superfícies lisas (cavidades classe 2).
Para um correto planejamento da forma de contorno em áreas de cicatrículas e fissuras deve-se observar os seguintes fatores segundo MONDELLI et al.:
         - Extensão da cárie, como por exemplo, o esmalte sem suporte na superfície é removido primeiramente; na lesão de fóssula e fissura a extensão é ditada primordialmente pela extensão da cárie na junção amelodentinária.(GILMORE), e considerando que a cárie se propaga como dois cones superpostos pelas bases, essa extensão deve englobar tanto a parte superficial como sua propagação ao longo da junção amelodentinária;
- Idade do paciente,
- Extensão de conveniência  
 Esta extensão de conveniência é citada por GILMORE; LUND (1975) como variações na forma de contorno causadas principalmente pelos diferentes tamanhos das lesões cariosas. A extensão do contorno em estrutura dentária sadia, para satisfazer as regras do preparo cavitário, desenvolve um modelo semelhante no aspecto cavitário. Os aspectos do contorno variam com a forma e configuração do dente, mas a regra consiste em conservar toda a estrutura dentária sadia possível. Essa forma de contorno é concebida para prevenir a reincidência das lesões cariosas no dente e para simultaneamente, localizar a margem da restauração em áreas que esteja protegida da maioria das forças oclusais. As estruturas de reforço dos dentes, como as cristas marginais, pontes de esmalte, arestas e vertentes de cúspides, devem ser preservadas durante o preparo cavitário e como já foi citado anteriormente, a menos que tenham sido invadidas pela cárie.   
Segundo GILMORE; LUND (1975) as restaurações classe 2 são utilizadas para cavidades de faces proximais de dentes posteriores e os princípios básicos que governam as restaurações da face oclusal aplicam-se também ao preparo da superfície proximal. A lesão proximal difere da lesão oclusal sob o aspecto de que a maioria do dano é causado por envolvimento superficial.  E segundo MONDELLI et. al.(2002) essa lesão de cárie se propaga como dois cones superpostos, ápice contra base na junção amelodentinária, e deve ser totalmente incluído na geometria do contorno e o ângulo cavossuperficial deve ser estendido até a estrutura dental sadia e o esmalte remanescente deve preferencialmente estar suportado por dentina também sadia.
Propagação da cárie
 BAUM classificou as lesões de superfície lisa  ( ou classe II )em dois grupos:
a)    Classe II incipiente para amálgama
b)    Classe II extensa para amálgama.
 As lesões cariosas incipientes, que normalmente ocorrem imediatamente abaixo do ponto de contato proximal, não são facilmente detectadas. A radiografia  interproximal é provavelmente o melhor método  para tal detecção . Em geral a forma de contorno interna deve ser pequena e conservadora, deve-se restringir ao máximo o tamanho da cavidade especialmente na superfície oclusal. Sua forma interna consiste em paredes lisas formando ângulos cavossuperficiais com angulação de 90°. 
A cavidade é igualmente profunda em todas as áreas  , a parede da cavidade é plana ou convexa no sentido horizontal,  no sentido vertical é plana e paralela ao longo eixo do dente. As paredes vestibular e lingual são convergentes no sentido oclusal, o que confere um maior desgaste na região cervical do que na superfície oclusal. Os cortes não são tão profundos , mas uniformes e se estendem da margem gengival até a superfície oclusal
 Já para cavidades de classe II oriundas de lesões cariosas extensas, a extensão cavitária  está relacionada com o tamanho ou com a presença de cáries recorrentes ao redor de restaurações pré-existentes. As paredes cervical , vestibular e lingual da cavidade são mais ou menos planas e retas com seus ângulos cavossuperficiais de 90°. 
Antigamente no preparo cavitário para lesões incipientes, os ângulos vestíbulocervical e linguocervical eram  vivos em vez de arredondados , mas atualmente existe uma grande tendência ao arredondamento destes ângulos . Isso porque  diminui a concentração de tensões nessas áreas, além de possibilitar uma maior facilidade na condensação do material restaurador nesta região e consequentemente  melhor adaptação deste material será conseguida impedindo assim cáries recidivantes nesta área.
ângulos internos arredondados
A profundidade da parede axial não é determinada apenas em função da profundidade da lesão de cárie ou pela restauração antiga, e sim arbitrada pelo operador, sendo normalmente 1,2 mm para pré-molares e 1,8 mm para molares.
            As áreas de susceptibilidade são determinadas por fatores anatômicos locais, pela extensão da cárie e a localização do dente vizinho adjacente, e para se conseguir acesso à cavidade e localizar as margens em estruturas dentárias sadias. As paredes cavitárias proximais devem estar pelo menos fora do contato com o dente adjacente. Quando for estabelecido um grau de abertura, as paredes cavitárias precisaram ser estendidas ainda mais, objetivando atingir a estrutura dentária passível de limpeza. (GILMORE)
Segundo BLACK, as margens deveriam ser estendidas de 0,8 a 1,2 mm do dente contíguo.

             MONDELLI et. Al. preconiza uma separação da caixa proximal (tanto da parede gengival quanto das paredes vestibular e lingual) do dente preparado com o dente vizinho de aproximadamente 0,2 a 0,5 mm para cavidades moderna para amálgama. 

Separação dental

         GILMORE preconiza que a localização da parede gengival não difere profundamente. Sua regra consiste em proteger a parede, colocando-a abaixo do tecido gengival sadio, à exceção dos casos nos quais tenha havido uma recessão gengival ou cirurgia periodontal . A maioria dos preparos permite que a parede seja colocada abaixo do tecido mole, o que se verifica influir na papila gengival. Quando a crista dos tecidos está abaixo da união cemento-esmalte, não é prático localizar a parede gengival assim tão apicalmente.
               Segundo MONDELLI, a extensão ideal da parede gengival das cavidades classe 2 seria aquela determinada o mais distante possível do tecido gengival do ponto de vista biológico. Porém essa situação ideal não é atingida na maioria dos casos, tendo em vista que a extensão gengival depende de fatores como:
a)    Cáries e outros tipos de lesões,
b)    Higienização adequada,
c)    Retenção 
              Na dependência da extensão da cárie e de outros tipos de lesões a parede gengival se localizará supra. , ao nível ou subgengivalmente, como por exemplo; em pacientes jovens como a papila gengival é mais volumosa, a extensão localiza-se subgengivalmente, no caso de pacientes adultos geralmente a nível ou ligeiramente subgengival, e em pacientes idosos localiza-se supragengivalmente devido à retração papilar.

Outros fatores devem ser levados em consideração como posição e saúde da área do col, da papila interdentária e da crista alveolar, relação entre a crista óssea alveolar e o limite gengival da lesão cariosa (espaço ou distância biológica) que segundo tal autor deve ser entre 1,9 a 3,8 mm.
Distância Biológica e nivel gengival

FORMA DE RESISTÊNCIA
De acordo com CHABERNEAU et al., em 1978, existe uma certa superposição de funções nos vários aspectos do preparo para amálgama, do mesmo modo que para outras formas cavitárias. A localização de um assoalho pulpar plano, uniformemente na dentina, por exemplo, pode não apenas proporcionar aquele aspecto de contorno interno, mas também faz com que o assoalho fique um tanto perpendicular às forças oclusais e o amálgama apresente espessura para resistir a deslocamentos e fraturas; estes fatores constituem  também Forma de Resistência.
MATSON (1986) relata que a cavidade deve possuir uma forma que evite a fratura, tanto do material restaurador como da estrutura dental, esta forma recebe o nome de forma de resistência. Esta,  baseia-se fundamentalmente em princípios mecânicos que devem ser respeitados desde que não comprometam os princípios biológicos.
Segundo BARRANCOS MOONEY (1988), a forma de resistência é alcançada quando as paredes cavitárias cumprem com os seguintes requisitos: inclinação conveniente, regularidade em toda a sua extensão, esmalte suportado por dentina, angulo cavossuperficial de 90° e espessura suficiente para resistir a alterações dimensionais e forças mastigatórias.
LEIDAL & MJÖR , em 1993, afirmaram que a forma de resistência está relacionada com o desenho das paredes da cavidade que possibilita ao dente e à restauração suportar cargas elevadas durante a função, sem sofrer fratura nem deslocamento.
              MONDELLI et.al, em 2002, preconiza que a forma de resistência baseia-se em princípios mecânicos , pois os movimentos mandibulares dão origem a forças que podem provocar a  fratura das paredes cavitárias ou do material restaurador, sendo assim, certos princípios relacionados com a estrutura dentária remanescente e com o material restaurador devem ser seguidos a fim de determinar a forma de resistência.
              BLACK propôs em 1908 as seguintes características de preparo para as restaurações para amálgama: as paredes circundantes da caixa oclusal devem ser paralelas entre si e perpendiculares à parede pulpar. Paredes pulpar e gengival planas, paralelas entre si e perpendiculares ao eixo longitudinal do dente, possibilitando uma melhor distribuição dos esforços mastigatórios. ( Fig 8)
 

  Alguns princípios básicos para obtenção de uma forma de resistência adequada devem ser seguidos para se obter uma melhor qualidade e durabilidade da restauração ; tais como:
-O esmalte deve estar sempre apoiado por dentina sadia se possível, a fim de evitar prismas sem suporte e friáveis que fraturam aos esforços mastigatórios; se não for possível com dentina sadia esta deverá ser substituída por um material como por exemplo o ionômero de vidro,
-A profundidade da cavidade deve ser adequada de modo a permitir uma espessura mínima necessária de material;
-As paredes vestibular e lingual da caixa proximal devem ser convergentes para a oclusal pois além de oferecerem uma forma auto retentiva à caixa proximal, no sentido gengivo-oclusal, esta convergência preserva maior quantidade de tecido da crista marginal e expõe em menor grau a restauração às forças mastigatórias ,
-E com relação ao remanescente dental é extremamente importante a conservação de estruturas anatômicas de reforço tais como: cristas marginais, ponte de esmalte, arestas e vertentes de cúspides a menos que estejam comprometidas pela lesão cariosa.
É muito importante ressaltar que a forma de resistência está intimamente relacionada às características do desenho geométrico na confecção do preparo .O operador deve ter em mente alguns preceitos básicos e gerais, mas resguardando-se das individualidades específicas de cada caso. De uma maneira geral esses preceitos são:
            1) Ângulo Cavossuperficial e Paredes Circundantes
              De acordo com  GALAN JR et.al.(1984) um dos pontos mais críticos nas restaurações de amálgama é o ângulo cavossuperficial, que corresponde ao ângulo formado pelo encontro das paredes circundantes do preparo com a superfície externa do dente.  
                 Segundo GILMORE o acabamento da parede de esmalte é importante, porque estabelece a angulagem final e alisa essa parede. Como a margem de esmalte não é protegida pelo amálgama, deve-se removê-lo quando se apresentar frágil ou sem suporte. O esmalte deveria formar, idealmente, um ângulo de 90°  , no ponto onde ele se encontra com o amálgama., mas muitas situações resultam de um ângulo obtuso na margem cavossuperficial do esmalte. Não deveria existir da parte do amálgama , uma margem cavossuperficial do esmalte que fosse aguda, portanto, a margem cavossuperficial forma um ângulo de 90° com a restauração . A margem assim produzida proporciona o melhor suporte tanto para o amálgama quanto para o dente, que são estruturas frágeis. Freqüentemente resultam, entretanto, em margens de esmalte com ângulos obtusos. 
Já MENDONÇA27 preconiza que é extremamente difícil, em um preparo conservador, se obter um ângulo entre 70 e 90° dentro dos limites e dos princípios biomecânicos. Essa inclinação máxima que se consegue é de 56,95° para as paredes linguais e 48,99° para as paredes vestibulares, quando se usam brocas tronco-cônicas invertidas perpendicularmente ao plano oclusal. Para se conseguir então ângulos de 70 e 90°, essas brocas devem ser também inclinadas no preparo das paredes vestibular e lingual.
            MONDELLI et al. ,em 199731 , preconiza que o ângulo cavossuperficial deve apresentar-se nítido e sem bisel e basicamente, este deve ser estendido até que seja encontrado uma estrutura dental sadia e o preparo possibilite um bom acabamento da margem da restauração.De acordo com os conceitos clássicos de BLACK as paredes circundantes da caixa oclusal devem ser paralelas entre si e perpendiculares à parede pulpar , paredes pulpar e gengival planas, paralelas entre si e perpendiculares ao eixo longitudinal do dente, possibilitando uma melhor distribuição dos esforços mastigatórios. Por outro lado, o estabelecimento de paredes circundantes da caixa oclusal paralelas entre si proporcionam bordas de restauração com espessura insuficiente para suportar cargas mastigatórias, devendo-se principalmente no caso de dentes com acentuado grau de inclinação das vertentes de cúspides, confeccionar paredes circundantes convergentes para oclusal a fim de permitir um maior volume de borda para a restauração. As paredes vestibular e lingual da caixa proximal, em cavidades para amálgama, devem ser convergentes para oclusal, pois além de oferecerem uma forma auto-retentiva à caixa proximal, no sentido gengivo-oclusal, essa convergência preserva maior quantidade de tecido da crista marginal e expõe em menor grau a restauração às forças mastigatórias nessa região. Vista por oclusal, as paredes vestibular e lingual da caixa proximal devem formar um ângulo de 90°com a superfície externa do dente, de maneira a acompanhar a inclinação dos prismas de esmalte, o que é obtido por vestibular pela curva reversa de Hollenback; do lado lingual essa curva reversa é desnecessária.
Paredes proximais convergentes p/ oclusal
2) Curva Reversa de Hollenback
O objetivo da determinação da curva reversa de Hollenback é proporcionar uma restauração   de amálgama em 90°, tendo em vista que o amálgama apresenta uma baixa resistência à tração.
Curva reversa de Hollenback
3) Extensão do preparo cavitário:
   a) Abertura vestíbulo-lingual
Segundo BAUM, a cavidade classe 1 deve ter uma largura suficiente para incluir toda a cárie, sempre o mais estreita possível, lembrando-se, é claro, de que deve ser larga o suficiente para permitir a inserção do condensador para amálgama no preparo.
                 GILMORE et al. relata que a extensão da superfície oclusal é regulada pela cárie e pela anatomia do dente. Algumas propriedades anatômicas regulam o grau de corte necessário para atingir as áreas de imunidade. O número, comprimento e quantidade das coalescências dos sulcos oclusais regulam igualmente a extensão. A extensão cavitária   deveria incluir todas  as áreas de pré-cárie . Já para as cavidades classe 2 vários fatores influem no grau de extensão das paredes proximais, particularmente em casos nos quais nos quais o dente adjacente apresenta uma giroversão. A forma do dente estabelece variações na Forma de Contorno. Formas quadrangulares e ovóides exigem a remoção de mais estrutura dentária, para atingir áreas de relativa resistência à carie.
            O istmo do preparo é a área da superfície oclusal mais estreita onde se unem as duas partes mais largas da restauração. Essa área tem sido sujeita a muitas discussões e estudos, porque, nos primórdios da Odontologia, as fraturas do istmo de restaurações com amálgama eram consideradas um problema. Muitos tipos de tensões  ocorrem nessa área, e sob esse ponto de vista, ela é a área mais crítica do preparo.
 BLACK, em 1908, tendo como referência os materiais restauradores disponíveis na época, propôs que o istmo das cavidades oclusais, para amálgama , ocupasse o 1/3 médio da distância intercuspidiana desta face, situação esta que freqüentemente acarretava em fratura de uma das cúspides.
 A superfície vestibular do istmo deve incluir uma curva inversa, para proporcionar corpo às margens próximo-vestibulares. A parede lingual é curvada apenas ligeiramente e, algumas vezes, é retilínea com a ameia lingual larga.
            Em 1928,  PRIME 38 foi o primeiro a questionar a extensão do preparo cavitário proposto por BLACK, defendendo um preparo mais conservador, com a preocupação de que um desgaste excessivo da estrutura dental pudesse levar à fratura dentária, injúria periodontal e comprometimento pulpar.
  Somente em 1951, MARKLEY, voltou a propor uma abertura vestíbulo-lingual de ¼ da distância intercuspídea e desenvolveu brocas de dimensões menores,  permitindo , com isso, preparos mais conservadores.
GILMORE, em 1964, também preconizou o estreitamento de secção oclusal para possibilitar um istmo correspondente a ¼ da distância intercuspídea.
De acordo com MONDELLI et al.  em 1980 ,que testou a resistência à fratura de pré-molares superiores hígidos com preparações CL1 e CL 2 nas seguintes dimensões entre as cúspides vestibulares e linguais ( ½, 1/3 e ¼), verificando-se que aqueles com abertura de ¼ da distância intercuspídea apresentaram os maiores valores de resistência, não excedendo, é lógico, os valores dos dentes hígidos.
Segundo FRANCO 18, em 1981, que efetivou a relação entre a quantidade do remanescente dental e a resistência do dente, comprovando com seu trabalho que quanto maior o envolvimento das faces dentárias pela cárie, menor a resistência do dente às forças compressivas, e que a remoção do teto da câmara pulpar proporciona perda de resistência em cerca de 90% comparado a um dente hígido.
MATSON em 1986, preconizou que numa preparação moderna para CL 1 o istmo é cerca de ¼ da distância entre as cúspides, enquanto que a cauda de andorinha nas fóssulas se mantém com o menor tamanho possível.
Segundo OSBORNE; GALE ,em 1990, comprovando em estudos clínicos que restaurações estreitas de amálgama demonstraram menor índice de fraturas marginais que as outras de largura superior.
Portanto, a abertura vestíbulo-lingual sempre que possível não deve ser superior a ¼  da distância intercuspídea, pois sempre que houver um maior desgaste com conseqüente aumento dessa distância intercuspídea, representará uma perda em resistência à fratura do dente e conseqüentemente do próprio material restaurador.
Evolução dos preparos cavitários
B) Profundidade do preparo
            CHABERNEAU et al. , em  1975, preconiza que a localização de um assoalho pulpar plano uniforme em dentina, por exemplo, pode não apenas proporcionar aquele aspecto do contorno interno, mas também faz com que o assoalho fique um tanto perpendicular às forças oclusais e o amálgama apresente espessura para resistir a deslocamentos e fraturas.
            MATSON em 1986 defende que a profundidade média de uma cavidade classe 1 ou a caixa oclusal de uma cavidade classe 2 deve estar em torno de 0,5mm além da junção amelodentinária, conferindo assim uma retenção razoável nesta profundidade, sendo média do ponto de vista biológico.
         Segundo BARRANCOS MOONEY em 1988, o assoalho cavitário deve estar incluído todo em dentina e a ½ mm abaixo da junção amelodentinária. E em situações onde se percebe uma maior quantidade de dentina cariada, a profundidade do preparo deve-se limitar à remoção da dentina cariada.
Segundo BAUM ,em 1995, para cavidades classe 1 a profundidade é mantida uniforme em todo o dente: “profunda em dentes com esmalte espesso ( molares) e rasa em dentes com esmalte fino ( pré-molares); sendo essa profundidade estabelecida ligeiramente abaixo da junção amelodentinária. Já para cavidades classe 2 o preparo é igualmente profundo em todas as áreas.
            BAUM4 ainda constatou que o amálgama exige uma espessura mínima de aproximadamente 2 mm para uma melhor resistência aos esforços mastigatórios devido ás características de baixa resistência à tração, alto módulo de elasticidade e conseqüente fragilidade do material.         
                  De acordo com MONDELLI et al. , em 2002, a profundidade da cavidade deve ser adequada de modo a permitir uma espessura mínima do material restaurador, suficiente para sua resistência; de maneira tal que se tal princípio não for seguido, poderá haver fratura do corpo da restauração.
4) Paredes de fundo
A)  Paredes pulpar e gengival
De acordo com CORREA, em 1979, forma de resistência nas cavidades para amálgama é obtida por paredes planas, paralelas entre si e perpendiculares às paredes pulpar e gengival, com ângulos internos de preferência arredondados.
FICHMANN;SANTOS (1982) propõem que com relação à conformação das paredes pulpar e gengival, estas devem ser planas, paralelas entre si e perpendiculares ao longo eixo do dente para melhor distribuição dos esforços mastigatórios. As paredes pulpares planas proporcionam uma minimização dos riscos à fratura pela uniformidade de dispersão das tensões, tanto no interior da restauração como na dentina de suporte.
A exceção se faz nas cavidades  para amálgama nos primeiros pré-molares inferiores, onde a parede pulpar deve ser inclinada no sentido vestíbulo-lingual paralela ao plano oclusal. Do ponto de vista mecânico, esta inclinação irá provocar uma concentração de esforços no ângulo diedro línguo-axial devido ao efeito de cunha, enquanto do ponto de vista biológico verificamos um acentuado corno pulpar vestibular, formando assim um teto da câmara pulpar inclinado no sentido vestíbulo-lingual. Se executássemos uma parede pulpar plana e paralela ao plano oclusal, fatalmente teríamos uma exposição pulpar25
Inclinação da parede pulpar do 1° PM inferior
A regularização das paredes pulpar e axial   é recomendada quando estas se apresentarem irregulares devido à remoção de dentina cariada, podendo o operador se valer de bases protetoras para a obtenção destes objetivos.
Quando da execução de uma cavidade oclusal com a parede pulpar irregular, a complexidade dos componentes das forças que se desenvolvem pela mastigação têm a capacidade de gerar múltiplas tensões no interior do material restaurador, correndo este, maior risco à fraturas16.  
BARRANCOS MOONEY, em 1988, descreve que as paredes de fundo devem ser preferencialmente planas e perpendiculares à direção das forças mastigatórias (paredes pulpares curvas , convexas ou côncavas , não são convenientes porque não distribuem as forças vetoriais. De forma tal, que sejam absorvidas pelo dente e que possam facilitar a ruptura da restauração do dente ou gerar tensões na polpa).As paredes de fundo não devem ser excessivamente profundas e possuírem pontos de apoio em tecido sadio.
B) Parede axial
MATSON ,em 1986, preconizou que o arredondamento do ângulo diedro áxio-pulpar numa cavidade próximo-oclusal evita a concentração de esforços na região, produz um aumento da espessura do amálgama e afasta o eixo de rotação da restauração, aumentando assim sua resistência..
 Deve-se também manter uma ligeira expulsividade da parede axial no sentido gengivo-oclusal ,deixando-a plana no sentido vestíbulo-lingual, o que também diminui tensões e conseqüentemente aumentando a resistência.
5) Ângulos internos         
            Os ângulos internos do preparo cavitário influenciam na resistência do material restaurador e do remanescente dental. Os preparos clássicos preconizados por BLACK, em 1908, e BROONER, em 1931, requeriam ângulos internos bem definidos. A partir de  estudos de análises mecânicas de fotoelasticidade, diversos autores passaram a preconizar o arredondamento destes ângulos por observarem uma melhor dispersão das forças axiais, gerando pois  menores tensões tanto sobre a restauração como sobre o remanescente dental9.
            PREBEN & MJÖR (1988 ) citando GRANATH ( 1963;1965) descreve que os ângulos arredondados oferecem uma melhor distribuição de esforços pelo dente do que ângulos agudos.
            Autores como MATSON (1986 );BARRANCOS MOONEY (1988), salientam que apesar dos estudos de fotoelasticidade mostrarem que os ângulos arredondados geram menores esforços, esta diminuição seria de ordem qualitativa, sem entretanto ter uma correlação clínica significante. Do ponto de vista clínico, o arredondamento dos ângulos não apresenta benefícios perceptíveis.   
Apesar disto, é consensual que o arredondamento do ângulo áxio-pulpar possibilita uma diminuição da concentração de esforços nesta área, que tende a fraturar a restauração, possibilita maior volume de material restaurador, conferindo aumento na resistência à fratura da restauração. E é sabido que em cavidades pequenas realmente poderá não haver este benefício, mas  a medida que a sua extensão vestíbulo-lingual aumenta a necessidade desse arredondamento deve aumentar.
Segundo MONDELLI et al., em 2002, o reconhecimento de que um istmo largo, igual ao que se preconizava anteriormente, pode levar a falhas clínicas (fraturas, aberturas de margem, deslocamentos relativos á restauração) e as mudanças no conceito sobre extensão preventiva fizeram com que o istmo dos preparos fosse diminuído de 1/2  para 1/3 para 1/4 da distância entre os vértices cuspídeos, não apenas nos pré-molares como também nos molares.
6) Resistência do Material Restaurador                              
De acordo com MONDELLI et., al.2002, a forma de resistência está diretamente relacionada com a própria resistência do material restaurador, sendo fator preponderante a sua indicação precisa para cada caso.
No caso de restaurações de amálgama classe 2 , podem ser consideradas como sendo barras ou vigas encurvadas , sendo que numa viga simplesmente apoiada nas duas extremidades, a atuação de uma carga concentrada provoca, na porção côncava da viga, o aparecimento de tensões de compressão (Tc) , que são maiores junto à carga e que se aproximam do plano neutro, onde as tensões são iguais a zero. Na porção convexa da viga, a partir do plano neutro, surgem tensões de tração (Tt), que aumentam à medida que se afastam do plano neutro, e são máximas junto à porção mais convexa da viga. Nas áreas correspondentes às extremidades de apoio surgirão tensões de cisalhamento ou esforços de corte(Tc). Para uma viga encurvada, travada em uma de suas extremidades, e submetidas à ação de carga concentrada, o plano neutro (N) não passa mais pela porção mediana da secção, mas encontra-se mais deslocado para o lado da superfície.
É importante ressaltar que numa cavidade próximo-oclusal, devido à ausência de uma das faces do dente (mesial ou distal) , a carga mastigatória, agravada pela inclinação da cúspide e pelo efeito de cunha, pode levar a restauração em amálgama à fratura; ressaltando também uma interdependência entre a forma de resistência e retenção do material restaurador nas cavidades classe 2 , onde a estabilidade ou travamento do material restaurador no interior da cavidade pelas retenções corretamente localizadas possibilitam que a restauração suporte cargas oclusais de magnitude maior sem fraturar.
              FORMA DE RETENÇÃO
              Diversos autores ressaltam a interrelação entre a forma de retenção, que na verdade é a prevenção do deslocamento, e  a forma de resistência, pois, impedindo o deslocamento da restauração, contribui para aumentar a resistência à fratura da restauração de amálgama.  As formas de retenção estão intimamente associadas com a resistência e a tenacidade ou habilidade de resistir às tensões.
Esta íntima relação entre as formas de retenção e resistência é particularmente verdadeira, segundo CHARBENEAU et. al. (1978), em relação à localização dos assoalhos pulpares e gengivais que devem ser tão perpendiculares às forças oclusais quanto possível. Deve-se evitar um plano inclinado externo.
Segundo GILMORE et al, em 1975, a confecção da parede pulpar plana e perpendicular ao longo eixo do dente é um dos fatores que determinam as formas de resistência e retenção. De acordo com o tipo de broca empregado os ângulos diedros do 2° grupo  podem ser definidos ou arredondados. O fato das paredes vestibular, lingual, mesial e distal serem paralelas entre si ou convergentes para oclusal, também preenche os requisitos de resistência e retenção, tanto para o material restaurador como para o dente. Já nas paredes proximais para oclusal, caracteriza uma forma de resistência relacionada com a estrutura dental, devendo ter retenção independente, pois isso alivia as tensões no istmo da restauração e cria mais forma de retenção e de resistência.
GILMORE, em 1975, a porção proximal da classe 2, para restauração com amálgama, deve ter retenção independente. Isso alivia as tensões no istmo da restauração e cria mais forma de retenção e de resistência . A profundidade proximal é preparada para que se possa obter volume com uma espessura uniforme do material. A retenção é obtida primordialmente pela angulação das paredes vestibular e lingual, e , se for produzido o contorno apropriado, algumas das qualidades retentivas serão automaticamente conseguidas. A retenção proximal é obtida, primariamente, pela angulação das paredes; mas quando existem nas paredes, extensões grandes, os sulcos suplementares são essenciais.
Segundo MATSON, em 1986, existem duas possibilidades de se conferir retenção a um a cavidade. A primeira delas é o atrito da superfície dental com o material restaurador. Neste caso a própria conformação da cavidade propicia esta retenção . Este atrito será tanto maior quanto maior a área de contato. A segunda forma de retenção é fornecida pelo embricamento mecânico entre a superfície dental e o material restaurador.
Embricamento mecãnico
BARRANCOS MOONEY, em 1988, defendeu que para as cavidades classe 1 pequenas a convergência das paredes vestibular e lingual é suficientemente auto-retentiva, não necessitando portanto de nenhuma outra forma retentiva. Para extensões medianas e grandes se faz necessária a complementação da retenção do material confeccionando orifícios com uma broca cone invertido na base das cúspides mais fortes.
Segundo MONDELLI et al, em 1997, a forma de retenção é obtida pela geometria cavitária do preparo cavitário, de retenções adicionais mecânicas, de retenção por atrito do material restaurador com as paredes do preparo cavitário e adesão química conseguida pelos materiais adesivos. Tem a finalidade de impedir o deslocamento da restauração pela ação de forças mastigatórias, tração por alimentos pegajosos e pela diferença do coeficiente de expansão térmica entre o material restaurador e a estrutura dentária .
Segundo MONDELLI et.al. (2002) as formas de retenção incluem retenção friccional da parede ou atrito do material restaurador e retenções mecânicas adicionais tais como sulcos, canaletas, orifício para pinos, cauda de andorinha, condicionamento ácido do esmalte e da dentina para resinas restauradoras. A eleição da forma de retenção adequada será determinada pelo tipo de cavidade preparada.
1- Cavidade simples: Aplica-se ainda o princípio de BLACK8, que em 1908, afirmou que quando a profundidade de uma cavidade for igual ou maior que sua largura vestíbulo-lingual, ela é por si só retentiva. Nas cavidades que não apresentam esta auto-retentividade, faz-se necessária a confecção de retenções mecânicas adicionais, determinadas em dentina na base das cúspides.
2- Cavidades compostas e complexas: Nestas cavidades, o principio geral relativo à retenção é mais complexo, tornando-se necessário adotar alguns procedimentos a fim de conseguir a estabilidade da restauração. Dentre eles, podemos citar:
a) Cauda de andorinha : auxilia na retenção de restaurações de cavidades próximo-oclusais, no entanto, no ponto de vista biológico e mesmo da resistência da estrutura dentaria remanescente, não é vantajosa. ( MONDELLI et al. , 1980)
Cauda de Andorinha
b) Inclinação das paredes vestibular e lingual da caixa proximal:  estas paredes podem ser convergentes para oclusal, de forma que na porção gengival, as margens fiquem em zonas de autóclise e, na região oclusal, a restauração fique menos exposta às forças de mastigação. Quando houver necessidade de retenções adicionais, estas poderão ser feitas em forma de sulcos ou canaletas nas paredes vestibular e lingual da caixa proximal.
c) Sulcos proximais:  confeccionado à custa das paredes vestibular e lingual da caixa proximal, com o objetivo de se evitar o deslocamento lateral da restauração quando da incidência de uma carga oclusal.
Canaleta proximal

FORMA  DE CONVENIÊNCIA
Segundo GILMORE et al,em 1975, a obtenção de acesso para preparar o dente e inserir a restauração  é um passo essencial .
De acordo com CHARBENEAU et al, em 1975, a forma de conveniência é a conformação dada ao preparo cavitário para facilitar o acesso para instrumentação, inserção e acabamento do material restaurador, bem como para obter uma visão adequada. A aplicação mais comum da forma de conveniência relaciona-se a considerações tais como : proporcionar acesso para a remoção de cáries e acabamento das margens dos preparos.
Também CHARBENEAU et al, em 1975, afirmaram que as restaurações de amalgama , além de considerações habituais de conveniência para a remoção da lesão cariosa e outra instrumentação cavitária possuem considerações como escultura e acabamento do amálgama. Há uma interrelação com a forma de contorno externo, que permite através da forma de conveniência ajudar o paciente na limpeza das margens vestibular e lingual. A expulsividade da parede axial em preparos de classe 2 também como forma de resistência , é considerada forma de conveniência, pois ajuda na condensação e no acabamento do material restaurador na região gengival.
Nos segundos pré-molares inferiores, a inclinação da parede pulpar, de vestibular para lingual é uma forma de conveniência biológica, pois evita a exposição do corno pulpar.
GILMORE et al, em 1975, ainda, relaciona alguns métodos para obter a forma de conveniência :
1- Extensão do preparo cavitário : o dente pode ser preparado para se obter acesso à  carie . Normalmente isto é feito modificando-se a angulação da parede ou englobando esmalte sadio.
2- Seleção de instrumento: A utilização de instrumentos menores ou especificamente planejados, possibilita que a cavidade seja preparada quando as paredes são de difícil acesso.
3- Métodos mecânicos: O afastamento gengival ou separação dos dentes , tanto lento quanto rápido, podem ser considerados como conveniência no preparo cavitário.
A forma de conveniência depende das propriedades do material restaurador, dos métodos empregados para a confecção da restauração e da localização da extensão da lesão.
Num procedimento restaurador, pode-se considerar como forma de conveniência, a seleção de instrumentos especialmente planejados e de tamanho adequado. O isolamento com dique de borracha e a separação de dentes é uma forma de conveniência realizada previamente ao preparo, através do qual se obtém o controle de umidade e afastamento gengival para melhor visibilidade e acesso ao campo operatório, e também garantir as características ideais dos materiais restauradores. O amálgama pode sofrer alterações no seu comportamento físico quando, durante o procedimento restaurador, entrar em contato com umidade. Devido à contaminação de umidade com o zinco presente na liga deste material, a restauração apresentará uma expansão tardia, podendo comprometer seu desempenho clínico36
Nos casos em que houver necessidade de aumentar a extensão da cavidade, para facilitar a instrumentação, sempre que possível,  esse acesso deve ocorrer pela face lingual, por motivos estéticos.
A abertura de uma caixa oclusal para a remoção de cárie proximal era preconizada com freqüência, sendo considerada como uma forma de conveniência por permitir acesso à lesão cariosa. Com o desenvolvimento de técnicas atuais visando conservação de estrutura dental sadia, o acesso para este tipo de preparo é feito diretamente. Este acesso pode ser facilitado através da utilização de técnicas mediata ou imediata de separação dental, consistindo também em uma forma de conveniência.
QVIST; JOHANNESSEN; BRUUN39, em 1992, verificaram através de estudo clínico que, 69% dos dentes adjacentes são tocados pela broca durante o preparo cavitário de classe 2, aumentando consideravelmente o risco de desenvolvimento de cáries proximais nestes dentes, durante a remoção da lesão cariosa nas superfícies proximais, sendo conveniente a utilização de uma matriz de aço para a proteção do dente vizinho.
Segundo BUSATO, em 1996, relatou que uma ligeira separação (0,2 a 0,5 mm) deve ser dada às paredes vestibular, lingual e gengival em relação ao dente vizinho, determinando uma extensão de conveniência, pois facilita o acabamento das margens do preparo e a colocação da matriz.
E de acordo com MONDELLI et al., em 1997, esta separação deve ser perceptível ao operador de forma suficiente para permitir a passagem de luz entre o limite periférico da caixa proximal e o dente adjacente.
REMOÇÃO DA DENTINA CARIADA REMANESCENTE

  Remoção do tecido cariado

              A remoção do tecido cariado é uma das  parte das fases do preparo cavitário, tendo como objetivo deixar a cavidade isenta de tecido desorganizado e infectado, tornando assim , as paredes de suporte dos dentes  sólidas para receber o material restaurador.
Tem sido reconhecidas na zona de alteração dentinária duas camadas de dentina cariada : Uma superficial e outra profunda
A)   Área dentina afetada:É uma dentina desmineralizada mas não infectada.A presença de microorganismo é rara ou inexistente.A mesma não deverá ser removida e sim tratada,ultilizando bases protetoras,na tentativa de remineralizá-la
B)   Área de dentina infectada :É uma dentina invadida de microorganismo. Deverá ser totalmente removida .
A restauração permanente não deve ser colocada até que todo o tecido cariado tenha sido removido, pois a cárie consiste em um tecido infectado, mole, esponjoso e inadequado com o fundamento da restauração. A remoção da dentina cariada deve deixar a cavidade totalmente isenta de tecido desorganizado, proporcionando assim uma parede de dentina sólida.22
            Segundo MONDELLI29, em 1988, esta etapa pode ser executada durante a confecção da Forma de Contorno, quando se está diante de cáries incipientes ou pouco invasivas. Nos processos mais envolventes, a remoção do tecido cariado antes da definição da Forma de Contorno é uma boa norma e conduta.
A lesão de cárie em dentina é dividida, conforme sua profundidade, nas seguintes zonas:
1.  Zona da Cavidade: contém restos de tecido mineral e alimentos.
2.  Zona de Dentina Cariada Superficial: é a dentina que se encontra necrosada, desmineralizada, desorganizada e sem função. Há presença de bactérias e seus ácidos.
3.  Zona de Dentina Cariada Profunda: é a dentina afetada, porém não contaminada por bactérias, que pode ser recuperada.
4.  Zona de Dentina Esclerosada: é uma dentina com maior grau de mineralização, tendo obliteração dos  túbulos em resposta aos estímulos (bactérias).
5.  Zona de Dentina Reacional: denominada de dentina terciária e forma-se dentro da câmara pulpar somente em conseqüente de um estímulo.
                  A distinção entre uma dentina com ou sem bactérias é clinicamente importante para que se estabeleçam parâmetros de diferenciação entre o que deve ser removido e o que pode ou convém ser preservado no preparo cavitário12 . Para a remoção de dentina cariada remanescente, podemos utilizar instrumentos rotatórios (brocas esféricas) em baixa velocidade e/ou instrumentos manuais (colher de dentina). A remoção da dentina amarelada e amolecida, ou seja, dentina infectada, pode ser realizada com colher de dentina, pois esta se desloca em lâminas ou blocos. Após a remoção desta dentina visivelmente cariada, pode existir dúvida quanto à presença ou não de dentina contaminada, ou seja, passível de remineralização. A diferenciação entre uma dentina com ou sem bactérias nos canalículos dentinários é praticamente inviável. A utilização de um corante orgânico, como, fuccina básica a 0,5% por 10 segundos, ou vermelho ácido, e lavagem imediatamente após, permite a diferenciação desta dentina irreversivelmente desorganizada daquela com potencial de remineralização, ou seja, somente desorganizada19 . A remoção desta dentina pode ser feita com brocas esféricas de tamanho compatível com a lesão, em baixa velocidade.  

Em cáries incipientes, durante a confecção da forma de contorno, eliminaremos todo o tecido cariado. Este princípio é válido para cáries não invasivas. Por outro lado quando temos cáries extensas e profundas, a remoção do tecido cariado deverá ser feita antes da delimitação da forma de contorno. Nestas situações devemos observar determinadas depressões que podem ocorrer no fundo das cavidades. Quando isso ocorrer precisamos preencher a mesma com bases protetoras.
           Para a remoção do tecido cariado, são utilizados instrumentos rotatórios ou instrumentos manuais. Após a remoção da dentina amolecida, com instrumentos rotatórios, fica muito difícil visualmente a distinção quanto a presença ou não ainda de dentina contaminada. Um procedimento de grande valia nestas situações é a utilização de um corante orgânico. A fuccina a 0,5% pôr 10 segundos nos permite diferenciar se ainda existe uma dentina cariada.
        ACABAMENTO DAS PAREDES DE ESMALTE

        O acabamento do esmalte constitui uma das fases mais delicadas do término do preparo da cavidade.O operador deve acabar as margens de modo que todos os prismas de esmalte soltos fiquem , sempre que possível, suportados por dentina sadia. A direção dos prismas de esmalte é decisiva quanto ao modo como o esmalte pode-se quebrar, e para tal importante o operador ter em mente que a maioria dos prismas de esmalte são curvos a partir da junção amelo-dentinára, terminando aproximadamente em ângulos retos à superfície externa do dente24.

PREBEN & MJÖR (1988) definiram como propósitos do acabamento das margens e paredes
1) Oferecer uma interface mecanicamente forte entre o dente e a restauração;
           2) Obter o melhor selamento possível na interface dente/restauração;
           3) Definir onde o material restaurador deveria acabar;
           4) Obter um ângulo ótimo do material na interface dente/restauração.
A remoção de  irregularidades e  dos prismas de esmalte  deixados após a instrumentação inicial irá promover um melhor vedamento marginal do material restaurador e o dente.
Atenção especial é dada à margem cavo superficial. Ela deve ser refinada , onde o esmalte deve estar liso e uniforme para complementar as propriedades físicas do material restaurador. Dependendo deste material esta superfície terá um tratamento diferenciado , podendo ser vivo ou biselado.
O uso combinado de instrumentos rotatórios em baixa velocidade , tais como brocas multilaminadas , discos de óxido de alumínio , pontas diamantadas de granulação fina  ,pedras montadas e instrumentos cortantes manuais afiados é o método de eleição para o acabamento das paredes das cavidades.
Uma parede cavitária alisada , sem irregularidades e definida melhora substancialmente todos os princípios do preparo cavitário.

              LIMPEZA DA CAVIDADE
                      O ultimo passo a ser realizado antes da confecção da restauração é a limpeza da cavidade.
Segundo Black , nenhum dente deve ser restaurado sem estar devidamente seco e limpo  Os objetivos do toalete da cavidade é removermos raspas de dentina e esmalte , bactérias, micro fragmentos orgânicos , que estão presentes na smear leayer.
Os detritos deixados  após o preparo são capazes de obliterarem os canalículos dentinários , interferindo assim na adaptação dos materiais restauradores. A infiltração de microorganismos é favorecida e a inflamação do tecido pulpar pode ser percebida.
Vários agentes de limpeza e medicamentos tem sido empregado para essa finalidade. Segundo Mondelli et al. (1997) estes agentes não  devem ser tóxicos para não causarem injúria no complexo dentina polpa. Tais substâncias devem ser tensoativas para que se estendam por toda a superfície dentinária, superando os obstáculos e tornando-a totalmente molhada       
  Para a remoção de partículas  maiores o uso de spray de ar e água é suficiente. Outros agentes podem ser empregados e são divididos em dois grupos: Não desmineralizantes e desmineralizantes , dentre eles podemos citar :
A) Não desmineralizantes:     
1)    Soluções germicidas :
· Água oxigenada 3%
·Hipoclorito de sódio:  Liquido Dakin 0,5%
                                                               Milton 1%
                                                                Labarraque 2,5%
                                                               Grossman   5%
                                                             Água sanitária 2% a  4%
2)     Soluções fluoretadas
             Solução aquosa de NaF 1,23%  ph 3,6
3)    Soluções de clorexidina
            Solução aquosa a 0,2%
4)    Substância detersiva
Lauril- dietileno – glicol  éter sulfonado de sódio : tergentol  ph 6,4
5)Substâncias alcalinizantes
Solução aquosa de hidróxido de calcio ph 12
 B) Desmineralizantes
 1)Soluções ácidas :
           ácido fosfórico 32 % a 37%
            EDTA 15% ph 7,3
            Ácido poliacrílico
            Ácido bórico
Diante do comportamento biológico dos agentes de limpeza frente ao complexo dentina polpa, a solução de hidróxido de cálcio é o que mais satisfaz os requisitos. Toda cavidade preparada deve ser avaliada quanto a sua profundidade e o tipo de material restaurador a ser empregado, para que possamos escolher o agente de limpeza ideal. 
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