Saúde começa pela Boca


terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Cariologia e Adequação do meio bucal

Diagnóstico, Plano de tratamento e Planejamento para tratamento da Doença cárie


n   CÁRIE : Doença Infecto- Contagiosa

A cárie atualmente vem sendo definida como um estado de doença infecto - contagiosa e não apenas como uma lesão cariosa do órgão dental.
Esta doença tem sido descrita como sendo de origem multifatorial e usualmente crônica, e tem como pré - requisitos fundamentais: a microbiota cariogênica: - os mais comumente encontrados são Streptococcus mutans e lactobacilos; a dieta: - Rica em carboidratos. E como fatores secundários: a saliva; a exposição ao flúor; a higienização fisiológica oral; e outros, que aumentam ou diminuem a resistência de cárie dos dentes, ou seja podem modular a atividade de cárie.
Seu aparecimento depende da interação de três fatores essenciais: o hospedeiro:  - dentes e saliva; a microbiota: - existente na região; a dieta consumida.  
          

Com o surgimento da nítida distinção entre a cárie dentária, a doença infecciosa e o seu resultado e as cavidades, deixou bem óbvio que a doença estabelece na boca muito antes do aparecimento dos seus sinais clínicos. As lesões de cárie assim como, as infecções pulmonares são precedidas em muito tempo, aos achados clínicos de tosse, expectoração e hemoptise ou a constatação radiográfica das cavernas pulmonares. Isto implica que é possível diagnosticar e interferir no processo carioso, antes que as cavidades apareçam, como de resto se faz com qualquer outra doença infecciosa. (SÉRGIO WEYNE, 1995).
A avaliação da doença cárie consiste inicialmente em uma análise do risco individual e não mais do tratamento mecanizado do dente. Para isso usamos de:

a) Anamnese, entrevista que coletará:
1.    Hábitos de dieta (consumo frequente e tipo de sacarose); 
2.    Uso prévio ou atual de fluoreto;
3.    Hábitos de higiene.

b) Exame Clínico:
1.    Índice de placa visível;
2.    Tipo de placa;
3.    Índice sanguíneo gengival;
4.    Carga restauração presente;
5.    Lesões de cárie presentes (cavitadas e manchas brancas) considerando a natureza evolutiva das lesões: ativas ou inativas, considerar a localização das lesões: se em locais de risco, por exemplo, cicatrícula e fissura ou superfície lisas.);
6.    Fluxo salivar.

c) Exame Complementares laboratoriais:
1.    Nível de bactérias cariogênica na saliva;
2.    Capacidade tampão da saliva.

Contudo o risco individual ou a atividade da doença deve ser diagnosticada e estabelecida previamente ao tratamento restaurador, pela análise dos dados. Também para avaliação eficaz da lesão propriamente dita é necessário e fundamental a complementação de exames radiográficos. (BARATIERI et. al., 1995).
No passado a progressão no desenvolvimento da lesão era rápido e precoce com cavitação devido ao rápido progresso na dentina com colapso das paredes. Atualmente este processo é lento, podendo se desenvolver sob o esmalte e mantê-lo com contorno intacto, ou seja progride de modo não visível, esta lesão recebe o nome de cárie oculta, somente visível no exame complementar radiográfico. Este tipo de desenvolvimento, tem sido explicado como resultado do uso tópico do fluoreto (ECCLES, 1989).
Lesões de cárie são facilmente diagnosticadas em qualquer superfícies lisas, mas um diagnóstico preciso de cáries incipientes em face oclusal, é mais difícil, devido a remineralização superficial, sendo possível que as lesões não detectadas clinicamente poderão revelar radiograficamente lesões  na dentina, portanto, um diagnóstico puramente clínico associado a filosofias mais conservadoras poderão também permitir que a lesão dentinária progrida livremente por muito tempo sob um esmalte sadio ou não suspeito em dentes que teriam sido restaurados no passado. Problema que pode ser solucionado com um bom exame radiográfico (KETLEY et. al., 1993).

Assim, o uso de radiografias bitewings ajudam no diagnóstico, não somente em lesões proximais, mas também na detecção de cáries oclusais que já envolvam dentina. (CREANOR, 1990).
A Dentística   Restauradora pode ser dividida didaticamente em Tradicional e Moderna. A dentística tradicional se pautava num protocolo de tratamento não individualizado e totalmente mecanizado, se fazia apenas a remoção do tecido cariado seguido de preparo clássico da cavidade com todos seus princípios gerais e restauração do dente. Porém, novas lesões cariosas surgiram e mais estrutura dental era perdida, criando assim, o fracasso do modelo cirúrgico- restaurador. estas condutas cuidam apenas das sequelas e não da doença, desta forma este tipo de tratamento leva na maioria das vezes na mutilação progressiva das estruturas dentais, o que foi chamado de Espiral da Morte pelo autor Hendrik Meyer-Lueckel em 2015.





Hendrik Meyer-Lueckel, Martin J. Tyas, Michael J. Wicht, Sebastian Paris. Tomada de Decisão na gestão/ Controle do processo de cárie. 2015.

Já a filosofia atual de promoção de saúde opta por tratar a doença cárie, devolvendo a saúde bucal, restaurando suas sequelas me meio limpo e individualizando a necessidade de tratamento de acordo com as necessidades, controlando primeiro a atividade cariogênica, para posterior tratamento restaurador de acordo com suas indicações e vantagens.
A bordagem Clínica deve ser baseadas em evidências cientificas, pois, as mudanças de conceitos associados ao desenvolvimento tecnológico e cientifico influenciam diretamente os procedimentos clínicos.
Hoje deve-se considerar que tratar a doença cárie é tão ou mais importante que tratar a lesão cariosa, pois só assim com a implantação de medidas que evitem a recorrência de cárie que se pode ter saúde.
Estes tratamento curativos devem estar estreitamente ligados com a prevenção, o que se denomina hoje de odontologia minimamente invasiva. Neste conceito várias pesquisas tem mostrado com sucesso a redução do desgaste das estruturas dentais e além disso a odontologia atual está investindo em pesquisas com célula tronco. Uma pesquisa muito interessante neste contexto é a que um brasileiro faz parte, onde foi realizado experimento em dentes de rato para formação de dentina e este ano segundo os pesquisadores terá inicio o experimento em humanos. Promotion of natural tooth repair by small molecule GSK3 antagonists. Victor C.M.    Neves, Rebecca Babb, Dhivva Chandrasekaran & Paul T. Sharpe. Scientific Reports 7,  Article number: 39654 (2017) -doi:10.1038/srep39654. 

Sendo assim, como devemos proceder para promover saúde? 
Para responder está questão devemos realizar medidas baseados na atividade de cárie de cada paciente, preparando a cavidade bucal para posterior realização do tratamento restaurador ou protético. 
Conhecer o paciente, para isto realizar anamnese de forma objetiva com perguntas relevantes quanto ao risco e atividade de cárie, saber a idade do paciente, doenças pré existentes e medicamentos, alterações salivares, exposição ao flúor,  dieta deste paciente.
Conhecer a queixa principal e o motivo da consulta e quais as expectativas, meio social, hábitos de vida, atividades profissionais, relações interpessoais, história pregressa, número e tipo e severidade, histórico de dor, hábitos parafuncionais, hábitos de higiene e alimentação.

NAVARRO,M. F. L.; 1995
Drogas que promovem hipossalivação e xerostomia